segunda-feira, 16 de junho de 2008

Senadores Franceses visitam o “País do Ouro Verde”


Senadores Franceses visitam o “País do Ouro Verde”

Ontem, enquanto eu pensava no tema para colocar no blog desta semana, zapeando passei pelo canal do Senado Frances e vi a imagem de Brasília: parei!!! Estava surgindo o tema: vagem de senadores franceses “au pays d’or vert”.

Bem, se tratava de uma reportagem da visita da Comissão de Finanças do Senado Francês ao Brasil, mas especificamente para conhecer melhor a produção de etanol. Que coisa, vai e vem e estamos no mesmo tema.

A organização da viagem foi bem feita. Visita a lavouras de cultivo de cana, a usinas, a centro de pesquisa e ao Ministério das Relações Internacionais em Brasília. Obviamente que a “força tarefa” francesa tinha algumas questões pré-determinadas: observar in loco se a produção brasileira atende os pilares da produção sustentável (respeito ao homem e ao meio ambiente). Para tanto, na visita a lavouras, os senadores se interessaram em particular a colheita manual (eles esperavam um regime de escravidão, tal como a imprensa divulga por aqui e nos Estados Unidos – vide reportagem de hoje no Los Angeles Times - http://www.latimes.com/news/nationworld/world). Que o trabalho é pesado ninguém tem dúvida. Para quem nunca viu um cortador de cana se assusta. Não foi diferente para os senadores franceses. A reportagem aproveitou a visita e entrevistou presidente de sindicato de trabalhadores, cortadores, técnicos, gerentes e juiz (já que existem muitos casos em julgamento sobre relação cortadores x usinas). De maneira geral, as percepções foram de que a atividade é rude, mas não aponta para uma escravidão. O juiz entrevistado fez referência que esse problema não existe em SP, mas possa estar presente que nas regiões nordeste (cana) e norte (madeira). Isso é corroborado na matéria de hoje do LA Times. Quando falou um cortador, ele fez referência a sua origem no sertão da Paraíba, onde as condições são pra lá de ruins. Nesse particular os senadores não puderam efetivamente fazer a relação entre situação em SP e Nordeste, pois são cenários muito diferentes. Duas questões fora apontadas pelos senadores e não respondidas: (1) a monocultura da cana é sustentável? (2) a produção da cana é socialmente justa?

Na seqüência, a comitiva visitou uma usina. Ali foi a vez dos técnicos fazerem uma abordagem do balanço energético positivo do álcool da cana. Não foi muito difícil por tudo que se conhece e que se pode fazer quando a tecnologia de obtenção de álcool a partir da celulose estiver no ponto. Mas o usineiro, na sua explanação, falou do apoio do BNDES para implantação do sistema de produção (cultivo e industrialização). Foi suficiente para um grande questionamento de que o Brasil estaria subsidiando a produção através de recursos públicos. Os senadores querem condições iguais com a Europa (eu também, pois aqui os subsídios passam dos 53 bilhões de euros/ano). Bem...

Em seguida os senadores visitaram um centro de pesquisa. A reportagem não esclareceu qual, mas me pareceu algo privado que trabalha com genética vegetal. Ali os pesquisadores e técnicos brasileiros falavam inglês com desenvoltura denotando uma boa formação. No entanto grande parte da reportagem foi baseada num trabalho cooperativo com a Monsanto para inserir nas variedades de cana um gene de resistência ao glifosato. Bem, nem precisa dizer a reação dos senadores... Aqui a critério sustentabilidade (entenda-se também como autonomia tecnológica) desapareceu.

Para finalizar a comitiva foi até Brasília no Ministério das Relações Exteriores (e não da Agricultura). Nesse particular o Brasil deu um tom comercial e não tecnológico ao tema.

Tive a impressão de que os senadores ficaram impressionados como que viram de positivo e negativo, mas permanecem fortemente inclinados em defender a produção européia e, sobretudo, a francesa.

Boa semana.


Foto ilustrativa: embrapa.com.br

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