segunda-feira, 9 de junho de 2008

COMO A EUROPA VÊ A CRISE MUNDIAL ALIMENTOS



Como não podia deixar de ser, a semana foi marcada por uma exposição acima do normal do tema CRISE MUNDIAL ALIMENTOS nas diferentes mídias européias. Diante disso, achei interessante trazer para vocês algumas preocupações dos europeus sobre esse tema. Primeiramente há uma tentativa de todos os setores da sociedade em encontrar as razões da crise e qual o papel da Europa nisso tudo. Nas abordagens gerais, fica evidente que o problema é multifatorial, de difícil solução e que afeta, sobretudo, os países pobres que eles chamam “do sul” (do Equador).

As conseqüências do aumento de preços para as populações dos países do Sul que especialmente são os que importam alimentos (ou não são auto-suficientes) são preocupantes até mesmo para a estabilidade política. Esse fato é maior nas populações pobres que não têm mais margens de manobra para controlar a crise. Mas esse aumento de preços não é o primeiro que esses países sofrem. Em 1994, a desvalorização de 50% da moeda nos países africanos de língua francesa, quase duplicou os preços dos alimentos importados. Embora essa elevação tivesse repercussões sérias na segurança alimentar, principalmente das crianças, não provocou revoltas como é se observa atualmente. Ou seja, existe um forte componente político associado ao cansaço de populações que não suportam mais de décadas de crises.

Esse cenário humanitário do discurso europeu tem dois componentes importantes: preço dos combustíveis e Política Agrícola Comum (PAC). É evidente que a Europa vai aproveitar a oportunidade e tentar organizar um pouco a PAC atendendo pressões localizadas (e que aumentam todos os dias). Mas é bom lembrar que a Europa não é um ator principal no mercado mundial de alimentos. Essa reorganização da agricultura tem o objetivo de negociar as quotas de cada país dentro do bloco.

Eu gostaria, de colocar duas questões recorrentes no discurso dos europeus sobre essa crise. A primeira trata da instrumentalização imediata dos países atingidos pela crise para que possam trabalhar políticas de produção de alimentos com demandas internas. Isso se justifica pelo fato de que muitos países pobres têm políticas de produção de alimentos voltadas à exportação. Mas temos que ponderar que muitos deles não têm outras fontes de renda. Essa instrumentalização passa por ajuda através de organismos internacionais.A segunda questão trata de criar mecanismos na União Européia que dificultem a importação de alimentos de países onde há crise ou os sistemas se produção não atendem os princípios da agricultura sustentável.

Bem, fica evidente que do ponto de vista de discurso, o Brasil é alcançado pelas possíveis medidas. Se não é um país em crise de alimentos é, aos olhos dos europeus, um produtor que não aplica os conceitos da agricultura sustentável. Mas não esqueçamos, como foi no caso da carne bovina, que o elemento preço ainda é a força motora mais importante das trocas internacionais. Mas é fundamental para o Brasil que a União Européia não coloque barreiras formais para importação de nossos produtos.

Boa semana.

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