segunda-feira, 2 de junho de 2008

Aumento do preço dos alimentos na Europa e biocombustíveis


Em vista da solicitação das Nações Unidas para reduzir os programas de apoio aos biocombustíveis, o comissário europeu para a agricultura, Mariann Fischer Boel, rejeitou alegações de que as políticas européias favoráveis aos biocombustíveis seriam a causa do aumento do preço dos alimentos.

Bem, para contextualizar o problema: em março de 2007, os líderes europeus se comprometeram em aumentar dos 2% atuais para 10% em 2020 a participação dos biocombustíveis nos transportes em geral. Essa decisão foi tomada em vista de três fatores: aumento do preço do gás, segurança energética e mudança climática. É importante lembrar que o preço médio do petróleo em 2007 ficou abaixo de U$ 80/barril. Obviamente que o petróleo entraria como a quarta razão para adoção dos biocombustíveis. Em resposta à demanda dos líderes europeus, a UE estabeleceu em 23 de janeiro de 2008 uma diretriz ampla tratando das energias renováveis. Essa diretriz apresenta como eixo central para os bicombustíveis a "sustentabilidade". Nesse particular estão os cuidados com o desmatamento, produção de alimentos e disponibilidade de água.

Segundo Fischer Boel, várias são as razões para o aumento dos preços dos alimentos. (1) demanda acelerada em países emergentes como a China e Índia devido a evolução dos hábitos alimentares (consumo de carne); (2) condições climáticas desfavoráveis na Europa, Estados Unidos, Canadá, Rússia, Ucrânia e Austrália em 2006 e 2007, que reduziu a oferta de alguns alimentos com impacto enorme nos mercados das matérias-primas para alimentação animal; (3) forte especulação nos alimentos de base. Fischer Boel insistiu que a política européia para os biocombustíveis não afeta o mercado mundial de alimentos. Segundo ele, isso é uma gota de água no oceano. A UE utiliza menos de 1% de seus cereais para a produção de etanol. E, embora a UE utilize dois terços de sua produção de colza para fabricar biodiesel, a produção européia de colza só representa 2% da demanda mundial.

No meio desse debate político- financeiro desponta um tema recorrente e muito presente na mídia européia: a segunda geração de biocombustíveis produzidos a partir de substratos não alimentares (lixo agrícola, folhas e palha). Aí entra novamente o Brasil em cena com a possibilidade de produção de álcool a partir do subproduto da indústria sucro-alcooleira.

Na verdade, o debate sobre os biocombustíveis está internacionalizado e entrou num embate político onde as implicações econômicas são muito grandes. Talvez esteja aí uma das razões principais pela tentativa da mídia internacional em desqualificar o Brasil como produtor de combustíveis renováveis.

Um comentário:

Anônimo disse...

No Brasil, o presidente LULA esteve reunido com acessores e com a imprensa ao final da última semana. Durante entrevista coletiva o presidente brasileiro foi enfático ao questionar as críticas "internacionais" feitas à política brasileira de estímulo à produção e ao uso de etanol. Segundo o presidente, diferente do milho, usado pelos EUA para produção de etanol, "a cana-de-açúcar não é um produto alimentício, e não pode ser responsabilizada". Isso todos nós já sabíamos, mas dessa vez o presidente LULA parece ter razão. Alguns países parecem ainda questionar o estímulo à cultura de cana-de-açúcar, como competidor direto pela disponibilidade de área para o cultivo de grãos. De fato, mas mesmo com o decréscimo da área ocupada por grãos, é notável o aumento de produtividade das lavouras brasileiras, e como conseqüência, nossa produção tem crescido majestosamente ao longo dos anos. O presidente LULA irá propor um debate mundial sobre o assunto, a ser realizado em novembro, no Brasil.